Há tempos que o verbo “voltar” se tornou um mero sinônimo de ilusão. Seguimos em frente, ainda que aos trancos e barrancos, mas não voltamos. E mesmo que eu tivesse escolha, não voltaria.
Esses dias em que fiquei ausente duraram séculos, incoerentemente falando. Mas foi bem assim. Muitas coisas aconteceram e muitas coisas deixaram de acontecer, desde uma internação no hospital à realização de um sonho. Os dias têm sido turbulentos.
Não me lembro onde foi que parei por aqui, mas não tenho intenções de reatar. Meu intuito é começar do zero. Por incrível que pareça, me sinto uma nova pessoa. Acredito ter uma nova visão, uma nova perspectiva, apesar de os sonhos continuarem intactos. De repente me pego sendo muito mais forte do que um dia acreditei ser: não há mais retalhos, embora haja uma imensidão de cicatrizes. Não me lembro quando foi a última vez que falei de amor sem doer e, neste exato instante em que você me sorri, não lembro mais da dor. E esse era meu medo. Algumas lembranças são responsáveis pelas minhas escolhas, e o que exatamente devo fazer agora que não há mais lembranças? Em uma visão proporcional, sentir medo pareceria até incoerente. Na minha visão errante, há beleza na covardia. Eis que me declaro covarde, observando paisagens na janela, fazendo de escudo as minhas inseguranças. Nesse mundo contraditório, a covardia se torna minha coragem.
Quem dera eu ser destemida na mesma proporção em que sei ousar. Queria que não me faltassem palavras nesses momentos em que sinto grande necessidade de falar. Ou melhor, dizer.
É bom voltar a escrever aqui. Sem ilusões desta vez. Sem grandes dores (físicas ou emocionais: já atingi minha cota). Mesmo que o sentido me abandone, sempre haverá algo a ser sentido, a ser escrito. Qualquer coisa é melhor do que o silêncio de uma folha em branco.
Would you say you need me? -♫