A b
eleza óbvia é tediosa: apena
s há demônio. Quero ouvir seu coração rasgando o peito e vindo até mim no in
tervalo de tempo ent
re a primeira
e a segunda batida.
A be
leza óbvia atrai e, inegávelmente, é desejável. Além disso, vejo monotonia. F
alta de. Eu
sinto a falta de inteligência, falta de caráter. Simples: falta de.
Há beleza não-óbvia em uma menina chorando no meio de uma festa animada, no sorriso distraído de um garoto que observa as árvores passarem em uma velocidade inacreditável pela janela do carro. Há beleza óbvia no ato de fazer as pazes, na intensidade do primeiro beijo depois da última briga, mas há beleza não óbvia no alívio que ele, por orgulho, fingiu não sentir. E no desespero que ela, pelo mesmo motivo, tentou esconder.
Há beleza não-óbvia nos motivos ocultos do sorriso tristonho de alguém - talvez ele tenha ido embora para estudar, mas eles ainda se amavam e conversavam pelo telefone - distância não é sinônimo de desamor. Há beleza óbvia na falta. Há beleza não-óbvia na saudade. Onde já se viu saudade ser um sentimento bonito? Não me condene, eu acho. A saudade é a certeza de que existe o amor.
A saudade andava de mãos dadas comigo. O tempo passou, nos perdemos. A falta me consumia e, irônicamente, queria algo que me deixasse com falta de ar. Olhei pro céu.
Ora, mas que dia cinza. Eu precisava de luz. Peguei um giz e desenhei um sol no chão. Um sol sem cores, sem calor, mas ainda assim, um sol. Basta.
Sorri sem querer. Sem perceber.
E quando dei por mim, estava no caminho de volta pra casa. Esqueci a saudade. Não voltei pra trás.